terça-feira, 18 de março de 2008

Cada um com o seu cinema


Hoje, após [mais] uma entrevista mal-sucedida [nem vou agonizar dias esperando o telefone tocar, okay?] resolvi ir ao cinema ver um daqueles filmes que você tem certeza que não vai sair em DVD porque, oras, só tá em cartaz no Cine Bombril.
Trata-se de "Cada um com seu cinema". O filme é um agregado de 33 curtas [de 03 minutos cada] de diretores de todos os cantos do mundo,e o projeto foi feito pra comemorar os 60 anos do Festival de Cannes, e passou lá no ano passado. Todos os filmes tratam de um tema em comum , Cinema [dãaar], mas em especial a relação telespectador-cinema.

Eu realmente gostei, não é todo dia que você vê Lynch seguido de Kar Wai [nem sei se foi nessa ordem], mas 33! 33 cansam. [principalmente com um casal de meia-idade se pegando na fila atrás de você]. Destaques:


Gus Van Sant - First Kiss
Em território conhecido do diretor, ele retrata o primeiro beijo de um jovem

Walter Salles - A 8944 KM de Cannes
Dois pernambucanos cantam sobre o festival.

Roman Polanski - Cinema Erotique
Acredite, é uma comédia. e muito divertida.

Nanni Moretti
(segment "Diaro di uno Spettatore")
Um dos melhores na minha opinião, pequenos relatos de um telespectador, toda a referência a Rocky Balboa é fantástica.

Claude Lelouch - Cienma de Boulevard
A história do diretor através de suas idas ao cinema e os respectivos filmes.

Abbas Kiarostami - Where´s my Romeo.
Lindo! A reação de várias mulheres ao final de Romeu & Julieta

Alejandro González Iñárritu - Anna




Lindo também. Aqui nós acompanhamos as reaçõe de uma cega ao "ver" um filme da Nouvelle Vague.

Trailler de "Cada um com seu cinema"









Ah, pra assistir o filme só no Cine Bombril que fica no Conjunto Nacional, então antes de ir ver a película [melhor, as películas], passe pela mostra "Magnum - 60 anos" no Espaço Caixa. Fotos de Henri- Cartier Bresson entre outros comemoram os 60 anos da agência Magnum [que ele fazia parte, dãr!]. Muito bom mesmo.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Valentin











Alejandro Agresti

Hoje com dois posts curtinhos, porém necessários [já forcei a amizade com o post de Adeus, Lênin!]
Valentin trata do universo de um menino de 09 anos que vive na Buenos Aires dos anos 60 com sua avó,abandonado pela mãe, e com um pai que pouco aparece.O apelo aqui, é a imaginação do menino extremamente inteligente [vai ser a Amelie de calças portenho quando crescer, certeza]. E é do seu modo espirituoso [o menino tem uma maturidade incrível pra idade dele, ou eu não sei como se portam crianças de 09 anos] que ele nos narra sua tentativa de fazer amizade com a nova namorada do pai, a doença da avó [Carmer Maura, do MARAVILHOSO Volver], o seu relacionamento com o próprio pai. As coisas não vão sempre bem para Valentin, ele chega a exclamar "A vida é difícil", mas com sua imaginação e positividade inocente tudo pode melhorar, e Valentin contrói novos sonhos, e esses sim dão certo!
Aliás o filme tem um que de Amelie, incluindo a galeria de personagens secundários, como o vizinho pianista, e as manias do menino, inventar apretechos de astronautas, ou suas falas inspiradas "Não há nada de errado com os meus olhos, é o ângulo que está errado". Aqui a charmosa Paris é trocada pela nossa equivalente Buenos Aires [provavelmente o bairro de San Telmo.]


é o ângulo, Valentin! [fofo]

Eu tenho que pelo menos comentar o show do Interpol que rolou na terça-feira 11/03. Eu nem era muito fã da banda, conhecia o primeiro CD porque [por motivos não claros] o ouvi muito numa viagem que fiz. Na volta, resolvi ir no show, e passei a ouvir os outros dois CD´s [a nível de não ficar perdida como no show do The Killers e me arrepender depois]. O que acontece é que cheguei no Via Funchal sem muitas expectativas [além de babar no Paul Banks], mas fui felizmente surpreendida! O show começou com a ótima Pioneer to the falls, a primeira vez que Banks abre a boca e solta o vozeirão, é inacreditável. Mais felizmente a banda sabe intercalar músicas muito intimistas [como a maravilhosa The Lighthouse] e as animadas como Slow Hands [o povo cantando e dançando geral] e faz um show animado sim, nada de cavaleiros do rock dark indie, ou alguma baboseira assim digna do tosco Lúcio Ribeiro [que eu vi lá por sinal]. No quesito, entrosamento com o público, eles se pronunciam menos que o Arctic Monkeys [é possível!], mas quem conhce a banda sabe que eles estavam se divertindo e Banks ainda soltou um "You guys are fucking awesome". Nem precisava, era só olhar por guitarrista Daniel Kessler, e perceber que eles estavam sim, se divertindo.


Daniel Kessler, foto sofrível, mas a melhor que eu consegui, de modos que ele não fica parado um segundo. [povo de BH corre ver o show amanhã, sério!]








terça-feira, 4 de março de 2008

Adeus, Lênin!


A preguiça me fez pegar pedaços de um trabalho que eu fiz e transformar em um post.

Goodbye, Lenin (2003)
Wolfganger Becker


O filme começa com o episódio em que o pai do personagem principal Alex Kerner, deixa a família em Berlim Oriental para supostamente morar com outra mulher em Berlim

Ocidental. Muito abalada, a mãe de Alex, Christine Kerner dedica todo seu tempo a um novo casamento, desta vez com o regime comunista “Como nesse relacionamento não havia sexo, restava-lhe muita energia para nós crianças e o dia-a-dia sob o regime comunista”, diz Alex que além de personagem principal é o narrador da história.

Dez anos se passam e no dia da comemoração dos 40 anos da República Democrática Alemã (em alemão DDR), Christine tem um colapso e entra em coma ao ver seu filho em uma passeata contra o regime comunista. Ela permanece em coma durante 08 meses e também durante a queda do muro de Berlim e a reunificação da Alemanha.

Os problemas de Alex começam quando sua mãe acorda - ela não pode sofrer grandes emoções, pois isso levaria de volta ao coma -, Alex decide então “criar” em seu apartamento a Alemanha Comunista. A partir daí vemos os esforços do filho para que a mãe não descubra a verdade, para isso ele envolve em sua farsa sua namorada, sua irmã e o namorado desta, e também seu colega de trabalho Denis, um aspirante a cineasta que o ajuda a “fazer” reportagens sobre a finada Alemanha Oriental.

O filme trata de um tema delicado, a queda do muro de Berlim. A história é contada a partir dos olhos de um jovem da Alemanha Oriental, que tenta de todas as formas ir contra essa corrente de mudanças. Enquanto todos os alemães orientais queriam mudar, Alex permanece parado no tempo e se possível queria voltá-lo. Há outro tema principal do filme, a relação da mãe com seu filho, nesse filme ela se encontra invertida, já que é o filho que faz todos os esforços para a mãe.

Para retratar esse período único da história o filme se passa inteiramente em Berlim Oriental, logo após a queda do muro de Berlim, vemos então que o ambiente passa por mudanças, nessa época os alemães do leste estavam ávidos por produtos do lado capitalista. O atraso da cidade é retratado em seus carros, prédios, e até roupas que são usadas.

Alex encara sempre essas mudanças de forma positiva: “Os ventos da mudança pairavam sobre as ruínas da nossa república. No verão, Berlim era o lugar mais bonito do mundo. Nós estávamos no centro do mundo onde as coisas finalmente estavam acontecendo” e “A vida em nosso país seguia em ritmo acelerado, éramos como átomos num enorme acelerador de partículas. Mas, ao abrigo do ritmo dos novos tempos havia um oásis de calma. Um lugar pacífico onde eu podia dormir.”.

O diretor usou também a Coca Cola para mostrar essa transformação, assim que o muro cai vemos alguns soldados marchando e uma bandeira vermelha, essa bandeira agora não é mais a que representa o comunismo, mas sim da Coca Cola. O vermelho antes a cor do comunismo, passa a representar o capitalismo, através de uma das marcas mais importantes dos Estados Unidos.

Em uma das cenas mais famosas do filme vemos Alex discursando no aniversário da mãe, dizendo que no último ano nada mudou enquanto isso deitada na cama a mãe de Alex vê no prédio do lado uma enorme bandeira da Coca Cola sendo colocada. É a marca dos novos tempos. Como explicação Alex passa para a mãe sua primeira reportagem produzida, nesta ele diz que a Coca Cola foi uma invenção comunista.


A cena mais significativa dessa mudança e também a mais bonita do filme é a aquela em que Christine sai pela primeira vez do apartamento sozinha. Enquanto o filho dorme, ela se levanta e anda pelo quarto, e resolve ver até onde pode andar e sai do prédio. Confusa ela vê vários móveis velhos jogados na rua, vê um feirão de carros que não existiam na antiga Alemanha oriental e continua andando. Ao fundo da avenida ela vê um helicóptero levando uma estátua de Lênin – provavelmente que foi retirada de alguma praça – nessa estátua em particular Lênin está com um braço esticado e a mãe vê a estátua passar por ela, Lênin aponta para ela e a estátua segue seu caminho. É ali que o comunismo diz adeus à Christine, os novos tempos chegaram e a estátua de Lênin não tem mais lugar ou significado, ela continua parada no meio da rua atormentada até que seus filhos a encontram. A trilha da cena é crescente e atinge seu ápice quando a estátua passa por Christine.

Enquanto o comunismo morria Alex mantinha firme sua farsa e criava uma RDA para sua mãe com a qual ele sonhava: “Devo admitir, a minha encenação havia adquirido vida própria. A RDA criada para minha mãe era a que eu havia sonhado.”.

Na sua última reportagem Alex decide que dará um fim digno à República Democrática Alemã, ele pede para o primeiro alemão no espaço, o cosmonauta Segmund Jänh que agora é taxista encenar para ele um discurso:

“... Sabemos que nosso país não é perfeito, mas nossos ideais continuam inspirando pessoas no mundo todo. Podemos ter, às vezes, perdido de visto nossas metas, mas recuperamos nosso foco. O socialismo não visa o isolamento, mas sim ir até outras pessoas, conviver com outras pessoas. Na visa só sonhar com um mundo melhor, mas fazer acontecer. Portanto decidir abrir as fronteiras do nosso país”.

Assim Alex termina a sua “abertura”, de algum modo ele foi dando a notícia aos poucos para como a abertura pretendida por Gorbatchov. Ele faz uma interpretação subjetiva do que era o comunismo e assim constrói sua própria utopia.



[só foi um ctrl c + ctrl v, mas posso dizer que o Daniel é uma delicinha?]